Acredita-se que ser jovem é poder usufruir de energia e disposição para estudar e trabalhar, galgar postos na carreira, ter um futuro promissor, e que nada pode mudar essa condição. Esse seria um cenário ideal, mas infelizmente uma fatia dessa estatística está longe de ter grandes aspirações profissionais. São jovens que fazem parte de uma porcentagem dos brasileiros à margem das conquistas consideradas essenciais para se ter uma vida digna.
Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), são 11,2 milhões de jovens, em que 17,4% dos homens e 28,7% das mulheres não estavam ocupados, nem estudando ou se qualificando. Entre as pessoas de cor branca, essa proporção foi de 18,7%, e entre as de cor negra ou parda foi 25,9%. No ano passado, cerca de 48,5 milhões de jovens não trabalhavam nem estudavam ou se qualificavam. Em 2016, eram 21,9%, e de um ano para outro esse número cresceu 5,9%, o que caracteriza mais de 619 mil pessoas nessa condição.
Já as pessoas em idade escolar obrigatória, entre 15 e 17 de idade, 78,3% se dedicavam apenas aos estudos, um aumento de 1,5 ponto porcentual em relação ao ano de 2016. A maior parte, no grupo de pessoas entre 18 e 24 anos, sendo 34,7% estava ocupada, mas não estudava. Porém, o maior crescimento (2016-2017) ocorreu entre as que não estavam ocupadas nem estudando, de 26,3% em 2016, para 28% em 2017.
No grupo das pessoas de 18 a 24 anos, a maior parte (34,7%) estava ocupada e não estudava, porém, o maior crescimento, de 2016 a 2017, se deu entre as pessoas não ocupadas nem estudando. No grupo das pessoas de 25 a 29 anos, 57,4% estavam ocupadas e não estudavam, e 25,6% não estavam ocupadas e não estudavam.
Educação e qualificação profissional perdem espaço
Com a instabilidade da economia registrada entre 2016 e 2017, muitos jovens (18 a 29 anos) deixaram de ingressar em cursos de qualificação profissional.
A educação tem sido posta como secundária, visto que o Brasil não conseguiu cumprir com a meta de redução da taxa de analfabetismo determinada pelo Plano Nacional de Educação (PNE). A proposta previa redução para 6,5% da taxa de analfabetismo, e visa erradicação até 2024. A taxa de analfabetismo em 2017 registrada em pessoas de 15 anos ou mais foi estimada em 7%, o equivalente a 11,5 milhões de analfabetos, ou 300 mil pessoas a menos do que em 2016 (7,2%). Entre as pessoas mais velhas, com 60 anos ou mais, a taxa foi de 19,3%, contra 20,4%, em 2016.
Falta de apoio
Alguns jovens são vistos como desengajados ou desmotivados pela sociedade, mas a realidade é que muitos têm motivos para não apresentar um quadro diferente. Percebe-se uma barreira na própria condição de vida em que eles se encontram para que não tenham aspirações, ou predisposições, para retomar os estudos e o trabalho. Eles não possuem recursos financeiros ou qualificação, uma vez que não conseguem se locomover entre uma atividade e outra com transporte coletivo. Entre tantos desafios, conciliar emprego e sala de aula parece ser o maior deles.
Nesse cenário, o impactante número de jovens afastados é proveniente de mulheres casadas e com filhos pequenos, que vivem sob a ótica social que as restringem de oportunidades econômicas e as limitam ao papel de cuidadoras do lar. Outros revelam que há motivação para voltar a estudar ou trabalhar, mas ainda não possuem ferramentas necessárias para realizar essa aspiração.
Outro ponto de atenção mostrou que muitos se inscrevem no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) ou enviam currículos, mas não dão prosseguimento a tais anseios. Acredita-se que alguns jovens não têm conhecimento de carreiras que lhes despertem interesse ou ainda não conseguiram encarar suas projeções para o futuro como algo palpável nem sobre como podem realizá-las.
Muito além de qualificação
Para entender as frustrações e necessidades desses jovens, é preciso que se fortaleça a capacidade de eles criarem metas, objetivos que envolvam suas aspirações e os impulsione para a realização de projetos de vida.
Entender que é preciso intervenções para viabilizar a participação dos jovens é um dos principais objetivos para mudar essa realidade. Vejamos três dessas:
- Oferecer programas de incentivo para que pudessem lidar com as dificuldades ao cumprir suas metas.
- Apresentar de forma facilitadora informações sobre oportunidades e como elas definitivamente mudam suas vidas.
- Convencer de que há pertencimento e preparação para aqueles que não se sentem enquadrados nas oportunidades disponíveis.
Tais intervenções podem fazer a diferença, se forem praticadas, uma vez que esses jovens à margem da sociedade, à margem de seus próprios anseios, são parte fundamental que não se pode desperdiçar. E o mais importante: são potencialmente os futuros integrantes da força de trabalho do país.